terça-feira, 5 de novembro de 2002
CIDADE DE DEUS, O FILME
O filme Cidade de Deus, que merecidamente atingiu recordes de bilheteria em todas as praças onde foi exibido, e foi escolhido como representante brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2003, é a prova maior de como uma obra cinematográfica, sem qualquer prejuízo para seus anseios comerciais, pode ser vista concomitantemente como entretenimento, como difusor de cultura e, principalmente, como instrumento de expansão da cidadania, através da capacidade de gerar interesse e discussão sobre temas sociais. No caso específico do filme em questão, fui imediatamente levado a analisar os fatos narrados no filme sob a ótica da teoria de formação do Estado moderno, estruturado pelo sociólogo Max Weber, concluindo que no território que serve de pano de fundo para os fatos inexiste o controle do Estado, pois o governo, seja por negligência, incapacidade administrativa, insensibilidade social, corrupção ou mesmo por opção política, foi paulatinamente deixando de atender as necessidades mínimas da comunidade, permitindo então que quadrilhas, com razoável nível de organização, passassem a atuar em ‘‘benefício’’ dessa área. Com a continuidade dessa situação, o local é transformado paulatinamente em um Estado paralelo, inclusive porque o chefe do tráfico passa a prover a população de funções sociais e de segurança, chegando ao ponto de tomar para si o ‘‘direito’’ de uso do monopólio da violência, absorvendo o privilégio de prender, julgar, condenar e executar.
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